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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Primeira Saída - "Batismo de Fogo"

O “batismo de fogo” foi feito na última semana de 2009, antes da Passagem de Ano.
Aproveitando o facto de estarmos os dois com uns dias de férias de Natal e de um casal de amigos autocaravanistas donos de uma Fiat Ducato Granduca 560, necessitarem de se deslocar a Soure (Coimbra) para resolver um problema que tinham na sua AC, resolvemos desafiá-los a fazerem-nos companhia na viagem inaugural da nossa Duquesa. Poderíamos, também, aproveitar para descobrir a razão porque no boiler não fazia água quente.
É que, as incertezas eram muitas e a companhia era muito bem-vinda.

Domingo, 27 de Dezembro 2009: Braga-Coimbra
Saímos de Braga pelas 17h00m, seguindo em direcção a Coimbra com o intuito de aí pernoitar. Escolhemos sempre estradas sem portagem e, depois de duas paragens para esticar as pernas e descontrair os músculos, chegámos ao destino por volta das 21h30m.
Parámos para jantar e pernoitar num parque, em frente ao Portugal dos Pequeninos, utilizado por camiões para estacionamento.
A noite tinha acabado de cair e sentia-se no ar que iríamos ter companhia de chuva. Estacionámos ao lado de uma AC de matrícula francesa que lá se encontrava e onde alguém, curioso com a nossa chegada, abriu a cortina mas, se acanhou de cumprimentar.
A primeira refeição foi no “Restaurante Granduca”, entenda-se, na AC dos nossos companheiros que, por serem mais velhos nestas andanças, saíram de Braga prevenidos com uma refeição já preparada.
O jantar marchou e foi logo marcado que o almoço do dia seguinte seria no “Restaurante A Duquesa”.
Porque a conversa estava boa, o café foi feito na AC e foi complementado com umas boas partidas de sueca, regadas com uns whiskies para uns e Porto para outros. Como só iríamos para a estrada no dia seguinte, não havia preocupações com o balão.
Tal como na história da Cinderela, ao bater da meia-noite, recolhemo-nos na nossa Duquesa e, apesar de estarmos 3 ACs, o ruído provocado pelo trânsito aliado a novidade da situação atrasou
bastante o momento de chegar o “João Pestana” .



Amanhecer em Coimbra
Segunda-feira, 28 de Dezembro 2009: Coimbra – Fátima (por Soure)
Às 8 horas fomos acordados com o incómodo, mas combinado despertador do telemóvel. Tínhamos que estar às 9 horas em Soure, para resolver os problemas das nossas ACs. A empresa também tinha feito férias de Natal, mas tínhamos conseguido que abrissem uma excepção e nos atendessem.
Lá fora chovia e, que agradável era ouvir a chuva a cair…
Com o boiler avariado, a higiene foi feita com água aquecida no fogão e, depois de termos tomado o pequeno-almoço, partimos em direção a Soure.
Fomos recebidos pelo dono da empresa, que os meus companheiros já conheciam desde a altura que lhe tinham comprado a sua AC e por dois funcionários que, de imediato deitaram mãos ao trabalho, cada um numa das autocaravanas. Enquanto que, o problema da AC do meu companheiro foi resolvido em segundos, o meu foi muuuuuiiiito mais demorado. Depois de terem testado o boiler no sítio, houve necessidade de o desmontar e, nessa altura fez-se luz:
“ – Coitado, tinha entregado a “alma ao criador”, a cuba estava danificada e a montagem de um novo rondaria os 1000€!!!!
Este valor estava fora dos nossos planos, no momento e, ainda questionei a possibilidade de encontrar um usado, mas foi-me dito que não tinham nenhum.
Dei, então, ordens para isolarem a zona da chaminé do boiler e do tubo do gás, porque o velho iria fazer a viagem num dos armários. O isolamento de entrada de águas do exterior foi feito, mas como não tinham tacos para apertar no final do tubo do gás, aconselharam-se a que procurasse numa loja de reparação de esquentadores ou de venda de ferragens. Poderia, sem querer, abrir a válvula de segurança do gás do boiler e …
Com as ACs presas na oficina, o almoço não pôde ser como havíamos combinado na noite anterior, uma vez que o “Restaurante Duquesa” estava em obras e por isso tivemos que recorrer a um restaurante local.
A verdade seja dita, não se perdeu mesmo nada…
Regressados à oficina, feitas as contas e as despedidas, seguimos viagem em direção ao IC2 e daí para Fátima.
Bom, pelo caminho não deve ter ficado nenhuma loja de reparação de electrodomésticos, de ferragens e afins em que tivéssemos entrado na esperança de conseguirmos um taco e, sempre sem sucesso.
Foi então que, quando as esperanças já tinham batido no fundo, perguntámos numa loja de venda de electrodomésticos de Fátima e nos foi indicado um representante da marca de esquentadores Vulcano, com direito a mapa desenhado e tudo que fez corar de vergonha o meu TOMTOM.
Pusemo-nos a caminho, até porque já se fazia tarde e com a sorte com que estávamos, corríamos o risco de encontrar a loja fechada.
Lá demos com o local e quem nos recebeu foi a simpatia em pessoa que com rara mestria e poder de desenrasque do tipo Macgyver, com a ajuda de uma moeda de 1 centavo (disse bem: 1 velhinho centavo de prata) soldado numa porca, construiu o tão desejado tampão.
Depois do pagamento e dos agradecimentos, dirigimo-nos ao parque do Santuário e estacionámos na zona destinadas às ACs onde já se encontrava uma boa meia dúzia.
A constatação de que o piso onde havíamos estacionado era bastante desnivelado, fez com que marcasse mais um ponto a favor de uma máxima que tinha eu inventado e começado a testar a verificabilidade:
“ Se, a experiência não é madre de todas as cousas” , o Autocaravanista aprende rapidamente que anda lá perto”.
Desnivelados ou não, o jantar foi novamente no “Restaurante Granduca” porque a sua Chefe fez questão e, nós não nos importámos muito.
Em equipa que ganha não se mexe e, porque quisemos ser fieis à máxima, até porque queríamos que a viagem inaugural da Duquesa fosse o máximo, repetimos o programa da noite anterior com café, umas bebidas, muita conversa e relatos de peripécias que culminaram numa noite de sossego divinal.


Amanhecer em Fátima
Terça-feira, 29 de Dezembro 2009: Fátima – Figueira da Foz – Mira.
Depois de uma noite bem dormida, num ambiente de sossego absoluto, despedimo-nos de Fátima e rumámos a Figueira da Foz, tendo como passagem obrigatória a Área de Serviço da Batalha, com o intuito de despejar águas cinzentas e negras e reabastecer águas limpas.
Sempre por estradas nacionais, cerca das 12h00, lá acabámos por chegar.


Estacionámos no parque contíguo à marginal e à praia, onde se encontravam algumas AC.
O almoço foi no Restaurante "Duquesa" com direito a um relaxante passeio pela marginal, intercalado com o cafezinho da praxe. Posto isto, rumámos a Mira, com a intenção de aí pernoitar. Metemo-nos à estrada nacional 109, sempre com o TomTom, pensávamos nós, como fiel conselheiro. A páginas tantas, encontrámo-nos perdidos no meio de nenhures dentro da Área Protegida da Praia de Mira, seguindo um estradão onde Judas perdeu a botas e com a sensação de que o caminho nos levava a "lado nenhum". E o pior é que o TomTom, continuava a "bater no ceguinho", empurrando-nos para onde sentíamos que não "queríamos ir por ali". Depois de uma paragem para decidirmos o que fazer, lá resolvemos confiar nos nossos instintos e voltámos para trás, à procura da primeira placa que indicasse a orientação da Praia de Mira. Ao fim de uma boa dezena de quilómetros, lá encontrámos a tão desejada orientação e retomámos o nosso destino, agora sem dar grande crédito ao GPS. Cerca das 18h00, entrámos em Mira. Já a noite tinha caído. A escuridão do céu anunciava tormenta. Percorremos a marginal à procura de local para pernoitar. Os tão malfadados e absurdos sinais de trânsito que proíbem o estacionamento de Autocaravanas lá se encontravam, informando a proibição de ACs na época alta.
Ao fim de alguns minutos estacionámos nessa mesma marginal, com vista para o mar. O vento forte era um sinal eminente de borrasca, mas mesmo assim, aventurámo-nos à procura de um franguinho de churrasco, sugestão do Chefe do Restaurante "Duquesa". A localidade foi passada a pente fino e não encontrámos um único restaurante que servisse o tão desejado churrasco. Valeu-nos o meu olfacto apurado que, no meio da procura, foi afectado por uma leve brisa de um aroma que se assemelhava, nem mais, nem menos a "pito assado". A partir daqui, foi fácil: foi só seguir o cheiro e, sem darmos por ela, estávamos à porta de um restaurante que se encontrava fechado.
O desejo era tanto que não nos acanhámos e batemos à porta, tal qual o frade da sopa de pedra. Atendeu-nos uma senhora que nos informou que o restaurante se encontrava encerrado, mas que dada a nossa simpatia nos confeccionava um belo churrasquito.
Uma hora depois, estávamos sentados na "Duquesa" a saborear o tão almejado repasto.
Lá fora, o vento rugia acompanhado por uma chuva intensa.
Uma AC belga tinha-se colado a nós, procurando companhia e aconchego para uma noite que se perspectivava dura.
Sair, nem pensar. A televisão, as cartas e muita conversa foram os nossos aliados, até que, à meia-noite os nossos companheiros decidiram recolher à sua AC. O vento estava bravo e a chuva também. A zona onde estávamos estacionados era demasiado desamparada, o que levou a decidirmos procurar um lugar mais aconchegado.
Uns 500metros bastaram para estacionarmos no aconchego da avenida principal, ladeados pelas habitações. As horas foram passando entrecortadas pelas nossas teimosas tentativas em adormecer, pela forte ventania e pelas violentas bátegas de água, que vento trazia do mar para cima da Duquesa.


Terça-feira, 30 de Dezembro 2009: Mira - Costa Nova(Ilhavo)- Braga.
A manhã acabou finalmente por surgir e com ela o vento resolveu ir descansar. A espaços, no céu, o sol mostrava-se e, cansados de uma noite mal dormida, abalámos em direção à realização do desejo de desfrutarmos do último dia de viagem.
A Costa Nova esperava-nos e prenunciava-se um belo dia que confirmava o ditado popular: “Depois da tempestade vem a bonança”.


Chegados, estacionámos na espaçosa rua marginal, no local destinado a estacionamento.
Vestidas com os seus trajes coloridos, as típicas casas de madeira, perfilavam-se vaidosas mostrando-nos com orgulho que “velhos são os trapos”.


A nossa vista acompanhou os nossos passos que se foram detendo sempre que iam encontrando mais um dos imensos pormenores dignos de apreciação.


Um espetáculo digno de uma tela.
O dia ia avançando, a tarde já tinha começado e como Braga estava a cerca de uma hora de distância, resolvemos pôr-nos a caminho.
As 15h00 soavam quando chegámos.
Tinham passado de 3 dias e 3 noites. A Duquesa percorreu 560 km sem problemas e proporcionou-nos aconchego e segurança.
O Batismo de Fogo tinha corrido pelo melhor.



Depois da Compra, as primeiras limpezas…

Tratando-se de uma AC usada, foi imperioso verificarmos se tudo se encontrava em ordem ou, se haveria algum “gato com o rabo escondido”.
Mesmo sabendo que não seria praticável voltarmos à Alemanha para reclamar qualquer avaria, as semanas que mediaram a sua chegada e a legalização final, foram ocupadas na verificação da funcionalidade dos vários equipamentos interiores, exteriores e mecânicos, até porque teria que ser inspecionada para efeitos de legalização.
Os aspectos mecânicos, eléctricos, de chaparia, de pintura, os móveis, as almofadas, os depósitos de águas, o painel solar, o fogão, o frigorífico e a tv passaram nos testes de avaliação sem problemas de relevo, capazes de serem suprimidas com pequenas bricolages pessoais, com a excepção do boiler de águas quentes que, veio a verificar-se estar avariado.
Os tempos livres que tivemos passaram a ser dedicados a limpezas profundasl. Os colchões e as almofadas foram desforrados e lavados na máquina a 80 graus, assim como as cortinas. Os enchimentos de esponja lavados com detergente e passados em água corrente e os armários, caixas de arrumação, fogão, frigorífico e casa de banho desinfetados.
A Duquesa vinha equipada com duas garrafas de gás propano alemão(13 e 5 Kg). A de menor capacidade estava vazia e a outra encontrava-se completamente cheia, mas era necessário encontrar alternativa com gás comercializado em Portugal. Depois de termos seguido alguns posts do fórum do www.campingcarportugal, optámos pela opção Repsol Propano porque, para além de nos terem trocado a garrafa alemã, deram o redutor, com a vantagem de o sistema não obrigar a alterações ao original.
Lentamente, a Duquesa foi começando a ficar com o nosso cunho pessoal.

A compra da Duquesa: O Processo…

Em 2009, a família decidiu que estavam criadas as condições para tornar real um sonho de muitos anos: a compra de uma autocaravana.
A habitação tinha condições para a guardar e começaram a ser feitos planos para a compra, onde foram tidos em consideração aspectos como o valor a despender, a regularidade de utilização, as dimensões, a lotação, n.º de camas e equipamentos adicionais de autonomia.
A realidade profissional de cada um de nós levou-nos a perspectivar que a sua utilização seria nas férias e numas escapadelas de fim-de-semana e, por isso, decidimos que não seria muito sensato fazer um grande investimento financeiro e optámos por procurar uma AC mais antiga, mais barata e com o factor de desvalorização menor.
Apesar de só sermos três utilizadores, a escolha recaiu numa AC que deveria ter 2 camas duplas e 1 individual. Apesar de o, modelo Capuccino, ser menos aerodinâmico, foi considerado o ideal
por permitir manter a mesa sempre montada, mesmo nas alturas em que a filhota nos acompanhe.

Conscientes da necessidade de autonomia energética deliberámos, ainda, que deveríamos procurar uma equipada com painel solar.
Na etapa seguinte, partimos para uma prospeção de mercado, junto dos stands de venda de usados e nos sites do mercado alemão, como o www.mobile.de.
Foi uma fase demorada, mas que nos permitiu ficar com um conhecimento melhor do que o mercado nacional e estrangeiro tinha para oferecer e, cedo constatámos que para veículos matriculados até Dezembro de 2007, era muito mais vantajoso comprar no mercado alemão, uma vez que os veículos nestas condições gozavam (e gozam) de um abatimento considerável no imposto.
Contámos, então com a preciosa colaboração de um familiar que se encontra a viver na Alemanha, a quem pedimos que verificasse as condições de algumas AC que se encontravam à venda na sua área de residência, à medida que íamos fazendo pesquisa na internet.
Ao fim de algumas sugestões, recebemos a confirmação de que uma delas reunia as condições desejadas e foi dada luz verde para que o dinheiro fosse transferido para o nosso familiar e agendada a data da compra que deveria coincidir com o levantamento do veículo.
Uma vez que, para um veículo daquelas dimensões ficava muito dispendioso vir num camião de transporte de viaturas (2000€ + IVA), partiu-se para a solução de a trazer a rolar.
Dado que havia disponibilidade pessoal para realizar a viagem à Alemanha e um amigo se ofereceu para o fazer, foi decidido reservar bilhete de avião numa agência LowCost (cerca de 40€) e foi redigida numa simples folha A4 a autorização para que ele fizesse a compra em meu nome.
No dia da viagem, lá partiu munido da procuração, do meu bilhete de identidade e dos elementos necessários para o registo (morada e número de contribuinte do comprador). Do aeroporto tomou o comboio para a morada do meu familiar e foram, os dois, fazer o negócio que se revestiu
de uma simplicidade capaz de fazer corar os serviços de registo portugueses e que passou pela redação da declaração de venda, necessária para a legalização em Portugal e pela deslocação à Câmara Municipal para formalização da venda, aquisição de Chapas de Matrícula de Exportação temporárias e Seguro.
Nem mais…

Regressados à AC, foram colocadas as matrículas, feitas as despedidas e partida rumo a Braga.
Ao fim de 4 dias de viagem e rolados 2200Kms, sem problemas, a Duquesa chegou ao destino e, um mês depois, recebeu finalmente as matrículas portuguesas, o livrete e registo de propriedade.
Por fim, ali estava a nossa “Duquesa”, uma Fiat Ducato Dethleffs Capuccino de 1992, 2500cm3, 6 lugares de livrete, 2 camas duplas, 1 cama simples com painel solar, capaz de nos começar a fazer sonhar…